23 de mai. de 2007

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Às vezes a represa contém uma força que é maior que as suas possibilidades de contenção. A partir de uma pequena fissura, toda a sua estrutura pode ceder.
Toda a energia necessária para conter a fúria da natureza, todo o desgaste que foi acumulando-se progressivamente até o clímax onde se desfaz a retenção, transforma-se em pedaços de resistência desfeita, espalhados sem intenção específica, tornados leito e fundo do rio que pacientemente aguardou o tempo de sua liberdade.
Às vezes a represa é entrave, um obstáculo ao fluxo da natureza e um embaraço difícil de se livrar. Ás vezes é apenas um monumento constrangido por velar um rio morto. Sem águas, sem forças, sem vida.
Às vezes a represa deveria estar ali, às vezes não. Às vezes deveria conter as águas, às vezes não.