5 de ago. de 2005

Artigo - Divagações

Conforme os anos passam e amaciam a nossa carne, começamos a notar que à idade soma-se, ou pelo menos deveria somar-se, a experiência. Consideramos, de forma geral, que uma boa experiência é aquela que se traduz em amadurecimento intelectual e emocional. Obviamente, o amadurecimento representa algo importante na medida em que nos permite, além do acúmulo de conhecimentos, aprimorar a capacidade de bem julgar as coisas.
Normalmente, aquele que, tendo sido confrontado com sofrimentos, angústias e preocupações, e julga ter superado estes momentos, substituindo-os por outros mais prazeirosos e tranqüilos, acredita saber a fórmula para a solução, não só dos seus problemas, mas os de todos os seus semelhantes. Procede de forma similar aquele que, ao fracassar na tentativa de esquivar-se aos seus infortúnios, observa alguém que parece fazê-lo com maior sucesso, acreditando poder elaborar o correto diagnóstico, tanto dos próprios erros como dos acertos daquele que inveja.
Não é falar uma grande novidade ou manifestar uma singular constatação dizer que, na maioria das vezes, os homens pouco tempo dispendem em questionar de forma significativa as suas próprias conclusões, incorrendo com freqüência no risco de tomarem por grande sabedoria alguma tolice herdada daqueles que julgam possuir um esclarecimento superior acerca das questões da vida, sejam seus pais, mestres, amigos ou qualquer outra pessoa que exerça uma influência significativa sobre eles. Sabemos que, se isto acontece, não é por má-fé, pois todo aquele que ama busca dar o seu melhor ao ser amado, inclusive compartilhando com ele o conhecimento que pensa ser oportuno para desviar-se das armadilhas que o mundo coloca em seu caminho. A experiência possui o seu valor, não há como negar, e deixar de beber nesta fonte que pode nos curar de tantos males antes mesmo que eles aconteçam não poderia ser considerada uma opção facilmente descartável. Mesmo assim, se valorizamos o que sabemos porque conquistamos este saber pela experiência e acreditamos que, se os que amamos acolherem este saber como seu, poderão se furtar a pagar o preço que pagamos com o nosso sofrimento, não estaríamos lhes subtraindo a oportunidade de criarem-se a si mesmos e diminuindo o valor da experiência em si?
Se a isso somarmos o fato de que nada garante a certeza das nossas certezas, a não ser a confiança que temos nelas, notaremos que; tanto quanto podemos conceder valor à maturidade que adquirimos pela experiência vivenciada e acreditamos que ela deve ser considerada não só para nós mesmos, como para os outros; nunca teremos o direito de forçar qualquer pessoa a seguir os nossos passos, devendo pensar da maneira como pensamos, agir da maneira como agimos e escolher da maneira como escolhemos. Como, então, escolher o melhor caminho?
Primeiramente, podemos dizer que as almas mais nobres, mesmo não sendo poupadas em termos de sofrimento, jamais deixaram de possur generosas porções de discernimento, encontrando sempre formas de arbitrarem questões aparentemente insolúveis. Aristóteles situa a virtude no meio-termo (mesóthes), indicando que o homem virtuoso é aquele que evita tanto o excesso como a falta, ou seja, segundo o mestre grego, devemos evitar tanto o excesso de zelo como a falta deste.
Na realidade, embora tenhamos muita dificuldade em aceitar, nada diminue mais a nossa capacidade de escolher bem do que o nosso forte apego ao orgulho e ao egoísmo. Experimentemos ficar um dia libertos deste jugo tão cruel, para notarmos quão longe podemos ir sem ele.