20 de out. de 2005

Devaneios...

Nietzsche diz que o homem é uma corda estendida entre o animal e o super-homem, sobre um abismo. Ninguém atestaria objetivamente se há uma veracidade implícita nesta afirmação e nem precisaria isto, pois qualquer um que se debruce para contemplar a si mesmo com atenção, acrescentaria ainda que a corda é bem fina e balança.
Poderíamos discutir acerca da nossa natureza, se há um caminho de evolução ou não, acerca de nossa origem e do nosso fim, mas não precisaríamos discutir acerca do fato de que aquilo que entendemos como sendo nós mesmos é algo delgado e fugaz. Não temos a rigidez que percebemos na rocha, não temos a sua definição e seu peso.
Nosso corpo pode parecer suficientemente sólido para que possamos acreditar nele sem reservas, mas aquilo que o percebe, que o distingue e que afirma a sua existência é uma consciência que se agarra a esta pretensa solidez para não ser tragada pelos ventos da incerteza.
Há momentos em que conseguimos perceber que a existência traz consigo o deslocamento de quantidades enormes de energia, de vitalidade, energias que, por vezes, nos engolem, nos devastam, pois elas acontecem em nós sem o nosso conhecimento, sem o nosso consentimento, sem a nossa compreensão. Entretanto, estes movimentos são intrínsecos à vida, aliás, são a vida propriamente dita, sendo que eles nos acordam do torpor com que a matéria e sua estagnação contaminam o viver, propriamente dito.
Não há muitas opções, é preciso caminhar nesta fina e balouçante corda, pois é isto que aquilo que somos exige de nós. E o abismo? Ele que fique onde está, porque o meu caminho é aqui.