13 de set. de 2005

Devaneios...

Manhã fria, muito fria. Ao contrário da maioria, o frio ainda me atrai. Dizem que os escorpianos têm um gosto especial por dias cinzentos e nevoados. No meu caso, há um fundo de verdade nisso.
Muitos anos atrás, quando era um caminhante solitário, atravessava a cidade, perdido em devaneios, andando e andando. Gostava de sentir o vento frio batendo no rosto. Gostava de ver as árvores desfolhadas, mas vivas. Sinto falta de não fazer mais isso com freqüência.
Como disse outras vezes, sempre fui um pouco (ou muito) melancólico e nada combina melhor com a melancolia do que o outono e o inverno.
Este gosto pela poesia do frio talvez fosse algo de gaúcho, talvez das raízes européias ou, quem sabe, de uma vida passada. Entendia o meu jeito calado, introspectivo, olhar perdido no horizonte, como manifestação de uma nostalgia pelo antigo continente. Descobri um dia, porém, que Borges colocara o mesmo olhar nos olhos dos peões que miravam o horizonte dos pampas.
Mais próximo de mim, Vitor Ramil desenhou este sentimento em música e me fez ver o quanto, sem ser regionalista, estava entranhado nesta terra.
Descobri a minha natureza terceiro-mundista, o fato de viver abaixo do Equador e vi que isso era uma benção. Havia, afinal, cura para a nossa arrogância caucasiana.
A superioridade civilizada do primeiro mundo é uma falácia, recoberta com grossas camadas de verniz. Ela só pode ser sustentada com a impaciência que temos em provar que somos inferiores e indignos. Mesmo assim, não podemos jamais esquecer que não temos feito a nossa parte...