13 de set. de 2005

O Choro

Apanhou uma garrafa plástica de água mineral, daquelas grandes, de 5 litros. Uma caixa de chá de camomila (dizem que chá de verdade só se for de camelia sinensis, o restante são infusões, mas, se eu escrevesse assim, ninguém iria entender). Foi ao caixa para pagar as mercadorias.
Uma mulher atendia no caixa, outra conversava com ela. Não ouviu a conversa. Pareceu ter visto, meio que de soslaio, que a do caixa estava com lágrimas no rosto (não somente nos olhos). Não deu muita bola, a toda hora há alguém chorando ou sofrendo em algum lugar.
Quando se aproximou do caixa notou que era choro mesmo. A mulher que estava sendo atendida foi embora e restaram somente os dois: a chorosa e o indiferente (era um mercado pequeno).
- Não sei porque me acontece isso, me dá essa vontade chorar!
Silêncio.
- Começa assim, do nada! Não consigo evitar!
- Chorar é bom, faz bem. - falou o cliente na falta de algo melhor.
- É, mas não assim, na frente dos outros. Isso que eu tô tomando "floxetina".
- Todas as pessoas têm seus dramas.
Pagou a mulher e partiu. Ficou apenas perplexo com o fato de que, diante da expressão de angústia alheia, não soube o que dizer ou fazer. Todos têm seus dramas, mas, para quem sofre na pele, o seu drama sempre é o maior do mundo.